Com muita história, arquitetura, arte e música, Liverpool não precisa se esforçar muito para fugir do clichê de ‘cidade dos Beatles’. A capital do norte da Inglaterra, colada em Manchester, na beira do Mersey River, é facilmente acessível à partir de Londres, tem construções invejáveis e é mãe da primeira Tate Galery.
Mas muita gente procura Liverpool para conhecer mais a história dos FabFour e a cidade não fica devendo nesse sentido. Pelo contrário: é fácil ficar de saco cheio dos sempre presentes Beatles depois de um dia circulando pelo centro da cidade, batizado ‘Cavern Quarter’ – com o histórico Cavern Club redivivo, seu primo-irmão, o Cavern Pub, mais uma loja de camisetas/souvenirs, uma oferta bastante generosa de tours relacionadas aos Beatles e a cereja do bolo, o Hard Day’s Night Hotel, um hotel temático dedicado à música e imagem de John, Paul, George & Ringo.
É fácil esbarrar no mau gosto e em muitos momentos Liverpool fica devendo. O Beatles Story, por exemplo, dentro do Albert Dock, conta a história do quarteto com uma infinidade de fotos, vídeos, edições antigas do jornal Mersey Beat [espécie de NME local que divulgava shows e bandas e ajudou a dar fama aos Beatles na cidade] e detalhes sobre figuras cruciais da carreira da banda como o empresário Brian Epstein e o produtor George Martin.
Martin é responsável pelos melhores momentos da tour, em áudio. Fora isso, a visita mostra o mesmo que todo fã dos Beatles está acostumado a ver: bonecos do Yellow Submarine, as roupas do Sargent Pepper, muitas fotos da Beatlemania e afins. É difícil acreditar que alguém que foi até Liverpool se satisfaça com isso – e é aí que entram as várias tours.
O Yellow Duckmarine, por exemplo, passeia pela belíssima orla de Liverpool contando a história da cidade antes de dar um mergulho no rio Mersey. Excursões de ônibus, sempre cheias (e pelo que eu puder ver, de um pessoal mais velho) levam os interessados até as casas onde viveram Paul e John e mostram locais que batizaram ou aparecem em canções conhecidas, como Penny Lane, Strawberry Fields ou a estátua de bronze de Eleanor Rigby.
Amigos que eu fiz na cidade contaram que o melhor esquema de fazer um roteiro Beatles fora do esquemão pega-turista vigente é contar com um taxista. Os motoristas dos charmosos black cabs parecem sisudos de início, mas é fácil puxar papo – e dá para negociar uma quantia para que ele mesmo leve você de carro até pontos de interesse e, de quebra, ainda conseguir uma boa dica de pub.
No meu caso eu acabei no Baltic Fleet um antigo bar de marinheiros, o único restante da cidade antiga, que oferece pints de cerveja e cidra caseiras pra acompanhar um delicioso scouse, o ensopado de carne com vegetais acompanhado de pão fresco que é orgulho da cidade e perfeito para espantar o frio.
Falando nisso, por ser no norte e na costa, Liverpool tem a temperatura oscilando entre o muito frio e o absolutamente gelado, mesmo no começo do outono. Ainda que todos os lugares tenham calefação, andar na rua na chuva e no vento pode ser uma experiência deprimente. Mas se faltar agasalho, tudo bem: reformulado, o centro de Liverpool tem um enorme shopping center super moderno e cheio de lojas bacanas. De Zara à Urban Outfitters e loja oficial do Liverpool FC (e muita trecaiada dos Beatles), você vai achar algo pra comprar. O VTM é aceito em todo o lugar, sem exceção, e usar é muito simples – só tem que prestar atenção para apresentar o ID no pagamento.
Voltando ao Hard Day’s Night Hotel: a idéia de um hotel temático até que demorou pra acontecer. O hotel tem apenas cinco anos, fica há dois minutos (de táxi) da Liverpool Lime Station e no coração do centro da cidade, na esquina do Cavern Club.
É um quatro-estrelas super confortável e de ótimo gosto, decorado com fotos e curiosidades dos Beatles de um jeito bem discreto e agradável. Os quartos tem temas (eu peguei o Ringo Room!) e alguns tem um balcão de frente pra rua. No site do hotel você pode escolher por algumas suítes bem especiais.
E vamos combinar: por mais que nem todo mundo seja fã dos Beatles (o taxista me alertou: “se o Paul MacCartney andasse pela Penny Lane hoje, ninguém aqui daria menor bola”) é muito agradável entrar no hotel ouvindo canções como “I’m Only Sleeping” – sim, o Hard Day’s Night Hotel tem trilha-sonora!
É bem fácil ir de Londres para Liverpool, a partir da estação de trem de Euston. A cidade também serve como ponto de partida para explorar outros pontos do norte do Reino Unido – é fácil ir de trem para a Irlanda, Escócia ou para a região da costa noroeste da Inglaterra. Dica boa: vale investir num BritRail Card. São várias modalidades de acesso (todo o Reino Unido, ou só a Inglaterra, por exemplo) e validade (uma semana, um mês). O site com as timetables funciona super bem e há diversos aplicativos para iPhone/Android com os horários também.
LIVERPOOL OFF-BEATLES
Um dia é suficiente para mesmo o Beatlemaníaco mais maluco ver tudo que existe para ser visto sobre os Beatles em Liverpool. Então o que fazer depois? Muita coisa! Além da excepcional Tate Galery, que pode ser encontrada no pier (£12, em dinheiro, cartão de crédito ou VTM), há a FACT, o World Museum, duas belíssimas catedrais (a Anglicana tem uma vista linda de Liverpool, vale encarar a subida), bons restaurantes e, claro, a peculiar arquitetura da cidade.