Minha trajetória começou, há três anos e meio, como a de tantos brasileiros que chegam à Ilha: com o inglês muito básico, sem passaporte europeu ou qualquer facilidade nesse sentido.
Por isso, hoje, trago para vocês um pouquinho da minha trajetória até chegar aqui. Minha intenção, do fundo do coração, é fazer com que cada um que está lendo essa história acredite que o limite de tudo na nossa vida está no horizonte que enxergamos à nossa frente. Se você acreditar que é capaz de fazer mais com o que tem hoje, meu amigo… Pode apostar que você chegará longe!
O meu sonho do intercâmbio começou depois de uma fase difícil. Eu saí do meu último emprego para passar os dias com o meu pai, que estava com câncer, internado na UTI. Depois de muitas idas e vindas, ele faleceu. Isso foi um duro golpe na minha vida!
Ali me vi sem emprego, sem meu pai e sem inglês (porque todas as vagas que eu tentava me candidatar me lembravam disso). Meu mundo estava de cabeça para baixo e eu não conseguia ver muitas possibilidades naquele momento. Até que meu cunhado, em uma conversa informal, percebendo minha angústia, sugeriu que eu fizesse um intercâmbio para resolver de vez esse problema com o inglês.
Naquele momento, a sugestão me soou absurda. Imagine jogar o pouco que eu tinha para o ar e viver uma vida de estudante no exterior? Mas depois de amadurecer a ideia, consegui enxergar que poderia fazer sentido, porque além de melhorar meu inglês, teria a oportunidade de viver uma experiência internacional e desenvolver outras habilidades, como profissional e ser humano. De grana, eu realmente estava mal. Porém, meu pai havia deixado um seguro de vida para os filhos (que só descobrimos depois da morte dele) e, com esse dinheiro, tinha a chance de arriscar a vida fora do País ou não. E eu optei pelo sim!
Planejei muito todos os detalhes do meu intercâmbio. Queria dar foco total ao inglês, logo no início, momento em que estaria com dinheiro, para evoluir e tentar vagas de emprego melhores. Decidi, antes de chegar na Ilha, que faria um trabalho voluntário assim que chegasse e que tentaria emprego em empresas multinacionais que estavam no país.
O primeiro objetivo atingi ainda no primeiro mês. Consegui um trabalho voluntário em uma ONG chamada Oxfam e mergulhei fundo no meu propósito. Ia para a escola de manhã e à tarde, para a ONG. Além de poder auxiliar quem precisava, trabalhando voluntariamente, o voluntariado me ajudava muito no desenvolvimento do inglês. Essa experiência não teve preço. Foi realmente fantástica a minha evolução.
Obviamente, falando assim, talvez não dê para ter noção do quão duro foi tudo isso. Estar sozinha em um país novo, sem seus amigos e familiares, com uma língua diferente, era desafiador. Lembro de quantas vezes eu chorei, achando que nunca entenderia esse bendito inglês, de saudade dos meus sobrinhos, da minha mãe, da minha irmã e da minha família. Lembro do quanto tentar falar e não ser entendido tira sua capacidade de comunicação e, praticamente, te tira tudo.
Só quem já passou por isso sabe como é duro tentar falar e não se fazer entender. Tentar entender e nada fazer sentido. É preciso uma resiliência muito grande, uma fé e muita força de vontade para não desanimar. E eu só não desanimava porque via muitas pessoas que conseguiam. Tinha certeza de que comigo não seria diferente (e eu não costumo desanimar).
Quando comecei a colocar meu segundo objetivo em prática (procurar uma vaga de emprego em multinacionais) percebi como essa possibilidade estava longe. Eu tinha apenas um mês e meio de Irlanda, “inglês café com leite” e aplicava para várias vagas no LinkedIn (juro que não é piada, era pretensão minha mesmo *risos*).
Para a minha surpresa, e por eu ter tido excelentes experiências profissionais no Brasil, minhas aplicações começaram a surtir efeito de uma forma absurda. Só não contei com um probleminha: quando as empresas me ligavam para agendar as entrevistas, eu não conseguia entender nada! Eu falava “ok, ok” e, quando via, a pessoa estava me passando o endereço da entrevista. Percebi, ali, que precisava evoluir muito na língua para ficar “mais ou menos”. Se em uma ligação eu não conseguia entender o idioma, como conseguiria trabalhar com uma rotina em inglês, no dia a dia de uma empresa grande?
E, assim, fui seguindo, com foco total nas minhas aulas de inglês de manhã e no meu trabalho voluntário à tarde. Fazia de tudo, desde atender clientes e fechamento de caixa até limpar a loja, arrumar o estoque… Tudo o que vocês imaginarem! Foi uma experiência fantástica e gratificante, em que fiz amizades e conheci de fato como os irlandeses trabalham de forma diferente da nossa (um verdadeiro intercâmbio cultural).
Criei o blog e comecei a ajudar brasileiros a arrumar emprego, dava dicas para o currículo, sobre escolas, sempre falando muito da Irlanda. Também criei um projeto chamado Brasileiros de sucesso em Dublin. Desde sempre, trouxe esse lema comigo. Tinha muita gente conquistando coisas boas no país e eu queria inspirar e mostrar para outras pessoas que as conquistas aqui também eram possíveis. O blog sempre me inspirou muito.
A popularidade do blog crescia a cada dia, mas eu não conseguia ter qualquer remuneração através dele. Sabia da repercussão, mas sentia que ele era um meio para me aproximar das pessoas através de histórias, ajudar de alguma forma quem precisava de emprego e ter uma troca riquíssima, que não tinha preço.
Até que um dia, escrevendo para o blog, sobre agências de intercâmbio, a minha inspiração surgiu, sem que eu me desse conta… Bom, eu vim para a Irlanda com a CI Intercâmbio e Viagem e, naquele dia, me perguntei: “Porque a CI não está na Irlanda?” Essa pergunta não saía da minha cabeça.
Quando fechei meu intercâmbio com eles, fiquei impressionada de verdade com a estrutura física da empresa, a qualidade com que trabalhavam, o atendimento que recebi… Não entendia como uma agência como a CI não estava fisicamente na Irlanda. E aquilo ficou martelando na minha cabeça.
Descobri quem era um dos donos e enviei um e-mail com as minhas considerações sobre o mercado “Irlanda”. Sinceramente, não achei que teria qualquer retorno. Até que, dias depois, recebi a resposta dele, que havia lido o meu e-mail e gostado das minhas considerações. A partir dali, começamos a conversar e aquilo me parecia tão surreal, que não sei se vocês conseguem imaginar!
Você ter interesse em trabalhar em uma empresa, fazer uma proposta de internacionalização dessa empresa, que até então estava só no Brasil, e aquele sonho começar a se materializar na sua frente. Consegue ter ideia? Eu entendo, é difícil demais para acreditar. Mas estava acontecendo comigo!
Foi um trabalho de construção gigante. Só eu sei quantas noites fiquei sem dormir para estudar mais sobre esse mercado, que era novo para mim. Só eu sei como batalhei para correr atrás de tudo isso, ganhando pouco (na época trabalhava em uma lavanderia e era o meu único salário), depositando todas as minhas fichas em um projeto que, até então, não me remunerava.
Eu tinha claramente a visão de que o investimento era de longo prazo. Era plantar ali para colher depois. Quantas vezes ouvi de pessoas próximas, que eu deveria arrumar um emprego melhor ao invés de ficar dando vazão para um sonho, que aquilo nunca ia se concretizar, que eu era sonhadora demais…
Mas eu não desanimei! Fui desenvolvendo a confiança da empresa através do meu trabalho, provando a viabilidade do projeto. Comecei a trabalhar duro, com base nas informações que já tinha do mercado, da Irlanda e das demandas que recebia, e construí uma base de informações.
Até que marcamos uma reunião para que pudesse apresentar o mercado como um todo. Ali, era tudo ou nada. No final, a nossa reunião foi muito boa e, depois de alguns dias, me propuseram a sociedade da empresa. Eu não podia acreditar! E não por não ser capaz, por não merecer, por achar que não daria certo. Eu não podia acreditar que havia idealizado tudo aquilo e, de fato, tudo começava a se materializar!
Eu não tinha como renovar meu visto porque não tinha dinheiro para iniciar um novo curso. Deitava de noite e pedia a Deus para me dar paciência e sabedoria. Tinha uma certeza muito grande que algo muito bom estava a caminho. E eles conseguiram, juntamente com a Emerald, me dar uma bolsa de estudos para eu continuar na Ilha.
Bom, quando de fato começamos o projeto, tirando do papel e colocando em prática, foi desafiador, não vou negar. Reuniões com advogados, contadores, secretários, escolas, bancos, imobiliárias, tudo em inglês. Me deparei com dificuldades que nunca imaginei que encontraria, que não se restringiam somente à língua (que assumo, no começo, me deixava muito insegura). Porém, esse foi só o empurrãozinho que faltava para eu confiar mais no meu “the book’s on the table”.
Depois de muita negociação, a empresa topou aplicar para o meu Work Permit. Esse era outro sonho eu que tinha: sair do status de estudante e poder de fato trabalhar no país de forma regular.
Foram ajustes, justificativas, idas e vindas de e-mails. Dois dias após o meu aniversário, no dia 18 de janeiro, meu presente finalmente chegou! No dia em que recebi a notícia do Work Permit fiquei alguns minutos off, tentando processar tamanha felicidade!
Bom, estou falando tudo isso porque sei que a sua vida no Brasil ou na Ilha Esmeralda pode não estar sendo fácil. Mas preciso lembrar que nada do que contei aqui caiu no meu colo! Absolutamente nada! E ainda tenho muito por fazer, porque sempre precisamos crescer.
Tudo foi muito suado, conquistado, batalhado. Foram muitos frios na barriga antes de começar reuniões em inglês, por medo de me faltarem palavras. Foram provações sobre a minha capacidade, para os donos da empresa, por me designarem um papel tão estratégico. Foi a iniciativa de sair da minha zona de conforto, pensar fora da caixa para encontrar algo que ainda não existia e criar uma oportunidade. Foi dedicação integral a um sonho, mesmo antes dele se concretizar, na certeza de que estava no caminho certo.
Não tenho palavras para agradecer aos donos da empresa, pelo que fizeram por mim. De verdade, serei eternamente grata pela oportunidade que me foi dada.
Talvez essa história não estivesse sendo contada aqui se eles simplesmente tivessem ignorado o meu e-mail. Talvez eu estivesse aqui, contando a história de outra empresa para vocês, talvez de uma escola, de um outro lugar… Nunca saberei. A única certeza que tenho é que se eu não tivesse feito nada, não teria conquistado nada.
A nossa vida só depende das nossas ações para que o universo conspire a nosso favor. Eu não tinha absolutamente nada até me movimentar nessa direção. Acredite mais em você, acredite nas suas experiências e não permita que as experiências ruins de pessoas à sua volta se tornem suas. Nunca!
E seja sempre positivo e grato com a vida! Ela te retornará em dobro. Pode apostar! 🙂
Quer saber mais sobre essa história? Então assista ao vídeo e comente com suas dúvidas e opiniões!