Como mencionei no post anterior, eu estava bem ansioso para saber como a comunicação se desenrolaria nessa viagem. No começo de 2007 eu havia estudado espanhol com um professor boliviano por 1 mês e meio. A pergunta que não queria calar era se aquelas aulas me ajudariam em alguma coisa.
De qualquer forma a minha vivência como mochileiro não me deixava ficar demasiadamente preocupado com essa questão, já que segundo a minha professora Verônica, a comunicação é um obstáculo muito pequeno num mochilão, devido as diversas formas que ela pode ser desenvolvida. Mímicas, dicionários de viagem, etc…
Foi no ônibus de Puerto Iguazú para Buenos Aires que eu definitivamente exorcizei essa questão! O Lucas e eu sentamos em locais diferentes, o que me foi muito útil, pois fiquei do lado de uma simpática peruana chamada Gladys. Muito falante e aventureira, havia emigrado para a Argentina há 6 anos e morava sozinha. Tinha 2 filhos já adultos que ficaram no Peru e estava na Argentina trabalhando com uma amiga. Ficou emocionada ao relatar que telefonou para os filhos quando chegou nas Cataratas.
É bem interessante saber um pouco das pessoas de outras partes do mundo, o que elas pensam, como enxergam o mundo ao seu redor, o que as deixa felizes, seus sonhos e planos… Esse mundão é gigantesco, há muita gente nele, mas cada um (por mais insignificante que pareça ser nessa imensidão toda), é um verdadeiro universo. Um universo de idéias, emoções, vontades, vivencias…
Não dá pra conhecer todo mundo, mas faço um esforço para pelo menos trocar algumas idéias com quem vai viajar horas do meu lado seja num avião ou ônibus. Um mochilão sempre fica mais rico com essas trocas de experiências. A Gladys ainda me contou um pouco sobre o Peru. Deu dicas de sítios arqueológicos fora do roteiro turístico e acabou me deixando ainda mais com vontade de conhecer o Peru.
Depois desse maravilhoso bate-papo eu já estava bem mais a vontade para falar espanhol. Errando aqui e ali, mas entendendo e se fazendo entendido. O que eu não sabia, arriscava no português mesmo ou perguntava educadamente como se dizia tal coisa em espanhol.
Bem, antes das 22:00, nos serviram o jantar no ônibus. Isso mesmo, também tínhamos serviço de bordo! Nada muito espetacular, mas muito interessante, pois nunca tinha visto serviço de bordo em ônibus e não tenho notícias de que isso aconteça no Brasil. Após o jantar, as luzes se apagaram e todos dormimos. Ah, a nossa poltrona era semi-cama, ou seja, inclinava pouca coisa.
Acordamos sendo servidos com o café da manhã que também não era super caprichado, mas matava a fome. Nas paradas do ônibus, escovávamos os dentes e usávamos o banheiro, já que o único banheiro que tinha no ônibus já estava bem usado.
Uma coisa bem legal para se fazer em ônibus de viagem é escutar música. O Lucas havia levado o MP3 dele e eu estava animado para ouvir todas as cento e poucas músicas que tinha nele. Overdose auditiva que eu intercalava com longos papos e gargalhadas com a Gladys, que sempre me chamava a atenção para alguma coisa que estivesse rolando fora do ônibus, já que ela estava na janela.
Percebemos um certo trânsito, quando as placas nas ruas já indicavam Buenos Aires. Era uma sexta-feira típica de cidade grande. Na rodoviária, nos despedimos da Gladys e esperamos a chegada da Clau que aconteceu logo depois. Ela estava feliz da vida porque veio num ônibus com mais conforto que o nosso (leito) e lhe serviram até vinho no jantar.
Pronto, estava dada a largada novamente. Procuramos informações sobre passagens para Domingo à Rio Gallegos. Algumas empresas estavam parecendo muito caras, até acharmos a Pinguino que já vendia até a passagem-conexão de Rio Gallegos à Punta Arenas no Chile. Os preços estavam imbatíveis, só faltava o dinheiro.
Para garantir as passagens, resolvemos trocar alguns dólares (Clau e eu) no Banco de La Ciudad que ficava na própria rodoviária. O Lucas trocou um pouco de reais num guichê de cambio da rodoviária, já que o banco só trocava dólares e euros. Foi nesse momento que percebemos que o câmbio para reais era um pouco melhor do que para dólares. Isso se repetiria durante toda a viagem. Resultado: compramos as passagens e conseguimos um mapa básico da cidade nem lembro onde.
Ah, esqueci de falar que na viagem de Sampa para Foz, eu deixei no ônibus a minha revista de viagem sobre Buenos Aires. Nessa revista estava o endereço de um albergue que custava apenas 8 dólares, mas eu nem lembrava o nome. Foi aí que um rapaz que estava nos oferecendo albergue, gentilmente nos deu a dica do Hostel San Telmo. Na hora eu lembrei do nome que tinha lido na revista, era o mesmo!
E lá fomos nós para o metrô argentino.
Veja o desfeche dessa aventura no meu diário pessoal
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